Violência no trânsito.

Todos somos vítimas e algozes em uma realidade que insistimos em não modificar.

Dr. Jose Toufic ThomeNo relatório mundial sobre a situação da segurança rodoviária apresentado pela Organização Mundial da Saúde – OMS, com informações de 182 países, o número de vítimas de acidentes envolvendo veículos em 2010 foi 1.24 milhão, a maioria homens com idade inferior a 44 anos.

De acordo com esses dados, das 37.594 vidas perdidas em acidentes de trânsito no Brasil em 2009 (pág. 88 do relatório), 9.398 pessoas eram motociclistas (25%), 8.647 pedestres (23%), 8.271 ocupantes de veículos de passeio (22%), e 1.504 ciclistas (4%), entre outras perdas inscritas em categorias diferentes. E se a informação oficial brasileira é alarmante, pois se equipara aos índices advindos de nações onde existem conflitos armados, não menos importante, deveria ser a atenção oferecida pelo poder público e sociedade civil organizada, à população afetada direta e indiretamente por essa verdadeira catástrofe.

Mães, pais, irmãos, familiares e amigos que perderam entes queridos em situações tão violentas e inesperadas como são os desastres no trânsito, precisam receber acompanhamento emocional, entre outros. E a ausência e/ou ineficiência do Estado em mais essa área, possivelmente estarão associadas não apenas à perspectiva de futuro adoecimento em Saúde Mental de parte dessa população, como também podem estar ligadas à própria situação recorrente de imprudência, irresponsabilidade e insegurança que continua a originar tantas mortes e sofrimento. Pois na mesma medida em que ações de fiscalização efetivamente reduzem os acidentes ocasionados por alcoolemia, por exemplo, o abandono de rodovias, a ineficiência na fiscalização sobre veículos e a capacidade efetiva dos seus condutores, e a ausência do estado, assim como da Sociedade em sua capacidade de indignar-se e exigir mudanças de atitudes, sobre motoristas e motociclistas imprudentes, obviamente, contribuem na composição da realidade que aflige a todos, sem distinção.

Falham as autoridades, das que desviam recursos e são incompetentes para gerir as organizações essenciais à promoção de qualidade de vida para a população, às que não fiscalizam vias, veículos, motoristas e transeuntes, por omissão ou conivência com a falta de estrutura que lhes é ofertada. Falham os condutores, ciclistas e pedestres, despreparados e imprudentes, assim como os familiares e amigos que os cercam, sem interferir em suas atitudes. E falha a sociedade, como instituição, indiferente, egoísta e individualista, ao atribuir sempre “ao outro” a responsabilidade por quaisquer obrigações e ônus.

Repensar a sociedade, seus vínculos emocionais, sociais/relacionais, culturais, e a percepção de realidade e responsabilidades, é imperativo para que mudanças comportamentais reais sejam alcançadas. Aliás, segundo a base de dados DATASUS do Ministério da Saúde, em 2010 o Brasil perdeu 42.844 pessoas no trânsito, cinco mil a mais que no período avaliado pela OMS.

Não podemos saber que 40 mil pessoas foram mortas e simplesmente continuarmos o nosso cotidiano, como se fossem só estatísticas. Não há estabilidade emocional capaz de elaborar essa realidade, violenta e recorrente, sem que haja sensível desumanização.